Tragédia de menino faminto

Tragédia de menino faminto

"Era um menino magro e frágil, com um semblante triste e angustiado. Tinha cabelos loiros encaracolados que caíam sobre a testa e usava um shorts cinza rasgado que ia até os joelhos. Aproximadamente com uns 10 anos de idade, seu rosto exibia espinhas, principalmente nas bochechas. Ele olhava para baixo enquanto empurrava um carrinho improvisado, feito com calha de pneu de bicicleta e um caixote de geladeira.

O carrinho possuía apenas uma roda de calha, já que a de pneu havia sido substituída por espuma de almofada de colchão amarrada com elásticos e cordões ao redor da velha calha enferrujada, para facilitar seu movimento pelo solo. Apesar de sua fragilidade física, ele empregava grande esforço, seus braços finos se retorciam e pareciam prestes a quebrar a qualquer momento.

Este menino frequentemente passava grande parte do tempo sozinho e saía todas as manhãs para coletar ferros descartados nas proximidades do bairro, fazendo o possível para juntar algum dinheiro, pois sabia que aquilo seria seu café da manhã do dia.

No entanto, houve um dia em que já era tarde, passavam das quatro da tarde, e ele ainda não havia almoçado ou tomado café da manhã. Empurrava seu carrinho vazio, com apenas três pedaços de ferro que não valiam nada em troca. Seu semblante estava ainda mais triste.

Eu estava passando por ali enquanto conversava com uma senhora que eu não conhecia e era a primeira vez que nos falávamos. De repente, vi o menino e a tristeza que irradiava de seu rosto suado e cansado. Num piscar de olhos, ele tropeçou e caiu sobre seu carrinho, desequilibrado. Quando atingiu o chão, já estava sem vida. Eu não conseguia entender ou acreditar no que estava acontecendo, mas a senhora com quem conversava se aproximou dele, segurando sua mão contra o peito, e eu não consegui conter as lágrimas - chorei muito.

A vizinhança inteira lamentava a morte do menino, que lutava com todas as suas forças pela vida e, acima de tudo, pelo pão de cada dia. Coloquei minhas mãos sobre o rosto e chorei diante das explicações das pessoas ao meu redor. Diziam que Tariq morreu de fome, pois não havia comido naquele dia, e estava extremamente fraco. Observando-o empurrando seu carrinho com tanta determinação, eu já sentia um aperto no coração. O sol estava escaldante naquele dia, deixando sua pele queimada e seu rosto vermelho demais.

Por algum motivo, eu sabia que aquele menino não duraria muito. Mesmo assim, chorei tanto que não consigo expressar o quanto fiquei triste e, por mais que tente esquecer, nunca vou esquecer.

Toda vez que compartilho a história daquele menino sonhador que morreu de fome, me emociono com o triste e angustiado fim dele. Que Deus o tenha. Quantos Tariqs existem no mundo? Todos os dias, milhares de pessoas passam fome nas ruas, em algum lugar do planeta, e milhares morrem diariamente por não terem comida em suas mesas... quando há mesas."

 Escrito por: Alinny Mello em 13 de dezembro de 2015

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